quinta-feira, 17 de junho de 2010

Dizer o indizível

 

É agora, aqui, sentado nessa cadeira em frente a esse computador, que me pego a tentar traduzir em letra aquilo que enquanto imaginado permanece em constante ebulição.No desmoronar do tempo, me descubro corrosão:construção.

Às vezes espanta-me a inconclusa conclusão de que eu, solitário em multidão, me faço, aqui e agora, somente e tão-somente no então, aquilo que sou: estou.

Não há portanto espaço para verdades absolutas.E mesmo que houvesse, fossem elas ditas em bom português, em tom coloquial ou acadêmico, tão logo desenhadas, transformariam-se em signo-sementes, convites a produção.

A linguagem corporal, por sua vez, também escorre no tempo.Porque o que é meu corpo senão matéria em degradação ?
Aqui, a letra, o rabisco, o desenho, e, mesmo aqui, ação.Ali, o gesto, o olho, o sangue, a baba, o sêmen: nunca o fim, construção.

Talvez seja, por isso, a dúvida, a única certeza.Dizer, no sentido de traduzir acertada e definitivamente aquilo que terminantemente queremos expressar pode não passar de uma utopia.A palavra tropeça na tentativa de dizer aquilo que está para além da palavra, principalmente quando tratamos de temas como Deus, vida, morte, desejos...O gesto, por sua vez, paira em meio ao espaço que o distancia – e nunca encontra – daquilo que ele espera.

Abracemos o caos meus amigos.Celebremos o deus tempo.Sejamos um estar constante.

Nenhum comentário:

Postar um comentário