sexta-feira, 22 de julho de 2011

A mística litero-musical de Raul Seixas: Gitâ:

 

Trata-se de uma obra litero-musical que toma como base uma outra, literária, a saber, Gita, peça clássica do hinduísmo que faz parte de outra obra, maior, a saber: Mahabarata. É uma narrativa mito-poética sobre a guerra humana entre bem e mal como duas faces de uma mesma moeda.É curioso que Seixas e Coelho tenham composto a música em menos de 15 minutos, mas com a base que os sustentava, é de se esperar. As obras de fundo do clip são de Salvador Dali, Rene Magritte e Ierominus Bosch. Foi o 1º disco de ouro de Raul. Obra prima, sem comentários. Digna de menção entre os clássicos dos clássicos da música popular brasileira, e que nos instiga os mais sublimes sentimentos místicos. Deus é o eterno que em tudo se manifesta, é o alfa e o ômega: o início, o fim e o meio.

“Terra, água, fogo, ar, éter, pensamento, intelecto, e consciência pessoal são os oito componentes que integram minha natureza material.


Esta é minha natureza inferior. Conhece agora, oh tu, de braço poderoso, minha outra natureza, a superior, o elemento vital, que mantém o universo. Sabe que esta minha dupla natureza é a fecunda matriz de todos os seres. Sou o princípio do mundo e sou também o seu fim. (…) Eu sou o filho de Kuntî, o sabor da água, a luz do Sol e da Lua, pranava de todos os Vedas, o som do éter e a virilidade dos homens. Sou puro perfume da terra, a luminosidade no fogo, vida em todos os seres e austeridade nos ascetas.

Sabe, filho de Prithâ, que sou o eterno germe de tudo quanto existe, sou a sabedoria dos sábios e o poder dos poderosos. Sou a força do forte isento de apetites  paixões; em todas as criaturas, oh príncipe dos Bhâratas, sou o desejo que não contraria a santa lei.

Entende que de Mim procedem as naturezas individuais formadas pelas qualidades satva, rajas e tamas. Eu não estou nelas, mas elas estão em Mim”. (Grifo meu)

Bagavad Gitâ – Canto VII: Yoga do superconhecimento (Vijnâna-Yoga).

 

“Krishna – encarnação do espírito supremo – Arjuna e os Pândavas – ou São Miguel e seus anjos – representam a humanidade – como conjunto e como indivíduo –, com seus desejos e tendência à perfeição e ao Sagrado;  enquanto que, Duryodhana e seus Kurus – Lúcifer e Satanás com seus demônios – são a outra parte do homem, as forças do mal tais como o ódio, a luxúria, o egoísmo… Kurukshetra é a própria natureza de cada homem e da humanidade dividida em dois reinos antagônicos; Cristo e anticristo. (…). A lenda da queda dos anjos se inspirou (imediata ou mediatamente) no Bhagavad-Gitâ, na mitologia babilônica [Ormuzd e Ahriman], na mitologia iraniana …? Tudo é produto de uma mesma mentalidade oriental? A coincidência é manifesta”

QUEVEDO, Oscar-Gonzalez, S.J. (Pe.).Antes que os demônios voltem. São Paulo: Loyola, 1989, p.276-277.

Gitâ: o início, o fim e o meio.

Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim, o primeiro e o derradeiro – Ap.22,13