quarta-feira, 25 de maio de 2011

Um texto politicamente correto:




Tudo é relativo. Não existe Verdade, apenas opinião, e cada uma tem a sua. É mais aconselhável se manter, no mais das vezes, o mais neutro possível. Evite discutir religião, política ou coisas do tipo. Não cabe falar palavrão, bradar em voz alta uma opinião contrária àquela da maioria, ou se mostrar, o mínimo que seja, "politicamente incorreto". Não proteste, não seja como esses baderneiros que só se preocupam em bater bumbo nas ruas, protestando por isso ou aquilo. Não se exalte, faz mal ao coração.

Não proclame, em hipótese alguma, nenhuma máxima que considere uma Verdade. Afinal de contas, desde Nietzsche - talvez antes, desde Kant ? - essa ideia já caducou. O errado pode ser certo, o bom, mau, é tudo a mesma coisa, uma questão de gradação: é relativo, apenas um ponto de vista.   Não coma demais, evite gordura, manere no sal, seja comedido, também, no açucar, pratique esportes, não jogue lixo no chão, respeite as autoridades, não faça piadas com gays - ou melhor, homossexuais, não diga "bicha", nem "viado", "traveco" então nem pensar - prefira "homossexual". Em uma piada que faça graça com gays, prefira dizer:  

O homossexual mantinha, todas as noites, uma relação homoafetiva com seu amásio.  

À 

O viado trepava toda noite com seu bofe.  

Tal homofobia, dissimulada nas nem um pouco inocentes palavras, é preconceito criminoso, homofobia, e como tal deve ser condenada, pois denigre a imagem da oprimida minoria sofrida dos travecos, digo, dos homossexuais tão castigados pelos seus algozes.   Devo um pedido de desculpas, nesse momento, a uma outra minoria, a saber, àquela dos negros, povo marcado pela escravidão, mancha vergonhosa em nossa história. É politicamente incorreto, e o melhor é dizer judiar. Ops !! Não !! Me desculpem os judeus, pois pode parecer que, nesse momento, eu esteja cometendo um pecado mortal ao fazer uso de tal termo vergonhoso. Judiar não, prefiro ... calma, deixe-me recorrer ao pai-dos-burros, que nesse momento me serve, na verdade, como pai dos “politicamente corretos":  

Judiar = 1. Escarnecer, mofar, zombar: 2. Fazer sofrer; atormentar, fazer judiaria2; fazer sofrer; atormentar, maltratar:

Denegrir = 1. Tornar negro, escuro; enegrecer, escurecer: 2. Fig. Macular, manchar: 2 & 3. Fig. Desacreditar, desabonar, infamar: & V. p.  4. Tornar-se negro, escuro; enegrecer-se, escurecer-se. 
Fonte: Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa.

  Ufa ! Por um momento pensei que cometeria um deslize verbal e me flagrariam sendo politicamente incorreto. Outro dia eu confesso que comi um pedaço de bolo. Eu engordei dois quilos em um mês ! Será que vou morrer ? Será que vou pro inferno? Será que estou causando mal a algum esfomeado na África ? Será que estou denegrindo, quer dizer, judiando, quer dizer, zombando de alguém ?

Espero que tenha sido politicamente correto até aqui.  Se bem que devo confessar já ter rido de algumas piadas sobre gays, digo, de homossexuais, e muitas vezes as ouvi da boca de amigos meus, gays! Será que isso é homofobia, e, neste caso, sou também homofóbico e não havia percebido isso até agora ? E se a tal da lei contra a homofobia for aprovada, será que poderei ser preso por ter escrito esse texto ? Mas e os gays que contam piadas de gays, será que eles também são homofóbicos ? Mas isso não seria incoerente ? Ah, esqueci, pode ser, ou não, mas dá no mesmo, já que tudo é relativo.

Calma gente, não estou querendo ser o opressor de nenhuma minoria injustiçada tá bom ? Nossa, agora me dei conta de que a próxima minoria a protestar por proteção poderá ser a dos portugueses. Afinal de contas, eles são minoria no país não é? Será que, nesse caso, não se trataria de crime de lusofobia ou algo do tipo, e então qualquer piadista de plantão deveria vigiar a língua também para não cometer tamanha blasfêmia ?

E se um gay, por motivo qualquer que seja, agredir um hetero, será que poderá ser preso por heterofobia ? Ops, me esqueci que são os homos, e não os heteros, a minoria injustiçada da moda. Há algum tempo, me lembro bem, eram os negros, e, como vislumbrei no parágrafo anterior, logo logo poderão ser os portugueses. E se eu for processado pelo simples fato de ter escrito "denegrir" num texto, e tal ou qual considerar tal atitude um flagrante caso de preconceito racial e me processar por preconceito racial ?! Será que eles me judiariam na cadeia ?! Ai não... eu disse judiar ? Judiar não ! Não sou nazista !   Calma gente! Eu tentei ser politicamente correto até aqui, juro que tentei, mas confesso que sê-lo é um saco, por vezes um sufoco. Será que fui politicamente incorreto ao confessar essa opinião? 

Quer saber ? Acho que vou fumar um cigarro pra distrair, mas me lembrarei de fazê-lo escondido. Amanhã de manhã eu tomo um café, como meu pão - pão ligh ok ? - e vou ler algum livro. Talvez uma leitura mais ousada, mas cuidado, pois ousar demais pode não ser politicamente incorreto. Vou ler “1984”, de George Orwell, talvez alguma coisa do Olavo de Carvalho ou "A aspiral do silêncio", da Elizabeth Noelle-Neumann.  Conhecem ?

Um sorriso irônico subtamente imrompe em meu rosto blasé. Olho os livros na minha estante toda cheia de palavras que só tem valor àqueles que sabem ler.

Jeferson Torres

Nota: Volto a esse texto hoje, dia 25 de abril de 2012, ou seja, quase um ano depois de tê-lo escrito, e dou-me conta que, pelo menos no que diz respeito a escolha do dicionário, respeitei o politicamente correto e recorri ao Aurélio. Fosse ao Houaiss, poderia acabar caindo no politicamente incorreto, mesmo que sem querer, e assim ferindo a honra do povo cigano. São essas coincidências que acontecem diariamente, por pura sorte, que me fazem crer no "politicamente correto" e seguir em frente, sempre irônico e um tanto ácido, porque pra quem sabe ler, um pingo é letra.

sábado, 21 de maio de 2011

Tupã celebra 10º Festival de Teatro:


A cidade de Tupã-SP sediará, entre 28 de maio e 4 de junho deste ano, o FESTAETT (Festival de Teatro Amador da Instância Turística de Tupã). O evento, promovido pelo grupo Ágape de Teatro em parceria com a prefeitura municipal, chega à sua  décima edição ampliando seus horizontes, e dessa fez traz à cidade um grupo de pesquisa vinculado à Universidade Estadual de Londrina, que brinda o festival com o "Modus Operandi X Modus Vivendi", que será apresentado dia 28, às 11 da noite. Todos os espetáculos - com exceção de "A farsa do advogado Pathelin", que se dará no Parque do Atleta -  acontecerão no "Clube dos Comerciários", na avenida Aimorés 811.
Abaixo, o cartaz promocional e a programação completa de espetáculos:



Para a entrada será cobrado um litro de leite, sendo que a arrecadação destinar-se-à a instituições assistenciais da cidade.

Bom espetáculo a todos !

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Pra quem gosta de horror, de filmes e de shows:

 

Um épico cinematográfico cheio de luz e sombra em perfeita harmonia caótica. Um musical bem humorado e colorido: uma pintura barroque fantástica vinda direto da transexylvânia: The horror picture show.

Vale a pena assistir !

domingo, 8 de maio de 2011

Sobre o novo ateísmo:

 

O homo-sapiens-sapiens, de tanta informação embriagado, não enxerga o reflexo de sua ignorância estampado nas certezas que com tanta convicção proclama. Mas é preciso perceber o vácuo em meio ao volume caótico de vozes dissonantes da idade mídia, e, pelo exercício da humildade intelectual – nada caro a pseudointelectuais – ter coragem de assumir o erro, ou, ao menos, a sua possibilidade, sob a condição da dúvida que fomenta qualquer estudo.

O chamado neo-ateísmo vem retomar argumentos caducos, já debatidos por teólogos e revisitados por filosofos desde que Nietzsche pos em cheque a imagem patriarcal que a figura divina assume na teologia judaico-cristã. Não mais o alemão, mas cientistas metidos a filósofos, teólogos, filólogos e outros logos, reclamam para si a autoridade de assinar novamente o mesmo Deus, sem muitas vezes confessarem que suas ideias não são lá muito originais.

É preciso notar que existem diversos tipos de ateísmo. Podemos negar a existência de um Deus como figura patriarcal criadora do universo, caso coberto pelos parágrafos precedentes, ou, numa estratégia sagaz, atacar a religião, para atingir aquilo ao que ela representa, cada qual a sua forma, como intermediária, a saber, Deus.

Deus ? Qual deles ? Religião ? Qual delas ? Poderia um budista ateu – na medida em que não crê numa imagem antropomórfica de Deus – ser, não obstante, um religioso, e, em certa medida, também um não ateu, se considerarmos válida uma imagem mais fluida do mistério divino. Se a questão é Cristo a situação me parece ainda mais complicada. Este personagem é pedra basilar do catolicismo, e, por extensão, do luteranismo, calvinismo, correntes que se prolongam, até certo ponto, no protestantismo, mas também é figura central na história do judaísmo e exaltada pelo espiritismo como o espírito mais evoluido a ter pisado na face da terra.

No mais, o ativismo ateísta contemporâneo apresenta uma utopia outra, que pode ser tão ou mais perigosa do que aquelas estimadas pelas religiões, a saber, a do “mundo melhor sem religiões”.  O sangue derramado pelo socialimo soviético ou pelo nazismo alemão – ambos sistemas políticos de caráter anti-religioso –  não é suficiente para refutar tal tese ?

Por outro lado, é preciso ter cuidado com aqueles que fazem uso da religião para manipular massas carentes, carentes de um que indizível, que, sob o nome de Deus, recebe, pela vileza daqueles que se dizem seus representantes, a pena que lhes impõe, de ser submisso a sua própria versão do mistério que os surdos e mudos só apreendem a prestação da boca dos pseudo-profetas de botequim que lotam igrejas a mil.

 

A ciência estuda o mundo perceptivo, a matéria, em sua vasta manifestação e microscópica complexidade. Já temos acesso ao genoma humano, à cura de doenças que antes desafiavam o gênio humano, e podemos mesmo prever um ser pós-humano, para um futuro próximo, sob o escudo de uma ciência que se quer fáustica. Mas ante a condição mortal inescapável, o mistério da morte nos impõe a dúvida que justifica a humildade. Não se sabe, ainda  ao certo se existe um além túmulo, e todo o materialismo científico não assina atestado de óbido de qualquer metafísica porque esta é, como imprime seu próprio nome, uma além da física. Mas como humildade intelectual não é lá uma virtude muito cara aos cientistas materialistas ateus, e como a maioria de seus leitores nunca leu a bíblia, Platão e ou Aristóteles, nenhum dos filósofos escolásticos ou mesmo modernos, ou ainda, muito provavelmente, nem mesmo Nietzsche, o ateísmo ainda será, e talvez cada vez mais, o fetiche intelectual da moda.