Gerrah Tenfuss é performer riopretense que por aqui aparece pela segunda vez desde a recente criação do blog.Nosso caso foi de "chumbo trocado": primeiro ele me entrevistou, e agora fui eu que decidi entrevistá-lo.Nessa entrevista ele reflete sobre o teatro em face do pós-modernismo, fala um pouco sobre seu espetáculo ABIS/OM e do Festival de Apartamento que está acontecendo em Rio Preto.
Gerrah aqui e agora.Algo que tem te inquietado.
Olá Jeferson, primeiramente gostaria de agradecer o convite da entrevista e dizer que para mim é sempre muito bom ter um espaço de diálogo sobre temas relevantes. Atualmente (aqui e agora) o que tem me inquietado são os estados psícológicos que a humanidade tem mergulhado cada dia mais.Acredito que os tempos apocalípticos definitivamente chegaram, porém isso se traduz não em catástrofes físico-geológicas e sim na catástrofe psíquica gerada pela velocidade e quantidade de impressões que devemos absorver - o Baudrillard diz algo muito sério e profundo: A internet é a maior tragédia do século XX.
E como se sente - fingindo ser possível encerrar sentimentos em palavras - ao expressar essa opinião através da rede ?
Sinto melancolia, pois sei que esse processo não tem como retroceder, e sem uma profunda meditação nos aspectos essencias da vida somos apenas vítimas e escravos de uma cultura degenerada.
O psicanalista e filósofo Slavoz Zizek disse certa vez em uma entrevista concedida ao programa Roda viva, da Tv cultura, que a contemporaneidade caracteriza-se por um estado psicológico pós-traumático - usando o termo psicanalítico que lhe é de comum uso.Você afirmaria o mesmo ?
Sim, concordo com Zizek.
E como fica o teatro nessa história toda ? Se assumirmos o teatro como ato em comunhão, é possível falar em um processo de falência do teatro em meio as mídias de massa ?
O teatro não morre porque em essencia ele é dança e poesia, e o unuverso todo ressoa e se movimenta.
E como ficam os grandes temas que sempre moveram o homem - como a ambiguidade vida e a morte - se vivemos um período pós-apocalítico no qual a própria morte se converte em piada no jornal ?
Não acho que o momento eh pós-apocalíptico e sim apocalíptico. Os grandes temas tbém permanecem porque são dramas cósmicos.
E como foi apresentar seu espetáculo ABIS/OM nos diversos lugares pelos quais você passou ? Estamos falando em vida e morte, temas que lhe são muito caros e apresentam-se em seu trabalho de maneira muito forte.Comente um pouco a respeito.
O espetáculo viajou bastante ano passado e semana que vem estará no Festival de Manaus, depois eguimos para Bahia. Tem sido uma experiencia muito rica para mim poder levar um trabalho totalmente autoral. Apesar da linguagem hermética, a comunicação se estabalece pela condição limítrofe no qual está inserido a figura do espetáculo. Vida e morte são temas recorrentes na história da arte, porém não podemos partir deles e sim chegar até eles.
Concordo contigo.Já passei por isso durante o processo de criação de "Semente" em 2008. Mas mudando de assunto, nesta semana está acontecendo em Rio Preto o Festival de apartamento.Sei que está envolvido no evento.Como avalia essa edição do festival ?
Surgiu do meu contato com os organizadores e propus a realização dele aqui na cidade. Creio que será uma edição bastante particular, temos 16 inscritos de diversos estados do país, e ainda contamos com o espaço que será uma chácara, possibilitanto outras abordagens da performance em relação a espacialidade.
E a internet ? Muitos trabalhos inscritos fazem uso da internet no discurso performático ?
Apenas dois eu creio, não estou muito por dentro das inscriçòes, cuido de outra parte do festival
Ainda assim continua a afirmar ser ela, a internet, "a maior tragédia do século XX" ?
Acredito que sim, eh apenas um veiculo, mas seu mal uso configurou essa tragédia
Posso chamá-la então de "a bomba-atômica pósbomba atômica" ?
(Risos) Como preferir
(risos) Valeu Gerrah ! Continuemos em transconstrução.
Obrigado Jeferson, muita sorte e trabalho em sua carreira, nos vemos por aí. Abraços também a todos o leitores.
Bela entrevista !
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