quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Sobre tragédias e instintos

Caim mata Abel. Os irmãos de José o vendem como escravo ao faraó egípcio. Absalão, filho de Davi e neto de Jessé entra em guerra contra o reino de seu pai. Édipo mata seu pai e casa-se com sua mãe. Agamenon quer vingar a morte de seu pai. Prometeu é condenado à prisão eterna por conta da ousadia de ter dos deuses roubado o poder do fogo e o concedido aos homens. Antígona revolta-se contra a lei dos homens, e, fiel à honra aos deuses, desafia Sólon e enterra seu irmão. É depois Hamlet a buscar também justiça e, em meio a sua loucura sábia, assassinar seu tio que teria matado seu pai, pai que, morto, permanece sombra fantasmática a assombrar a psiqué de um personagem pré-freudiano. Freud debruça-se, essencialmente, sobre ela, a psiqué, do grego (alma), antes transcendente, ora transcendência estudada à luz de um conhecimento que se pretende científico. Mas Freud bem sabia que tudo o que vislumbrou enriquecia célebres histórias imemoriais.

Antes e hoje, seja nas histórias bíblicas, nas tragédias gregas, ou nos casos estudados pela psicanálise - que antes de seu surgimento já ilustravam os mitos antigos - continuamos os mesmos. Distintos, não obstante instintos. O maior mistério do homem continua a ser ele mesmo: narcisos anônimos, cada qual vivendo seu drama pessoal que em meio ao drama social se liquefaz. 

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