sexta-feira, 23 de julho de 2010

Partner




Os estudantes revoltosos, em maio de 1968, bradavam em alto volume: é proibido proibir.O lema ecoou por todo o mundo.No Brasil foi Caetano quem, junto aos Mutantes, utilizaram-se do lema da revolução estudantil como grito de ordem na música homônima cantada no Festival da Música diante de uma multidão que, nos dizeres do próprio Caetano, não entendia nada.Resultado: talvez a vaia mais famosa da história dos festivais.


Antonin Artaud foi elegido pelos estudantes revolucionários.Sua figura transformou-se, no jogo da revolução, num emblema anárquico a favor dos ideais da revolução estudantil.Martin Esslin, autor de "Artaud", livro que traça com propriedade a história de seu título, traz uma breve conclusão que debruça-se sobre o uso de Artaud com fins revolucionários em 1968.Esslin critica os estudantes, que, como vislumbro nas palavras do autor, não compartilhavam da dor de Artaud.É provável que eles mal conheciam sua trajetória, mais provável ainda, que nunca tenham passado por nenhum hospital pisiquiátrico ou sido expostos a tratamentos de eletrochoques.Mas o que dizer ? A história é a leitura da história (...).




Bernardo Bertolucci dirigiu na época um filme que se transformou numa pintura clara do quadro de 1968: trata-se de "Partner".Na película, um jovem entusiasta envolto em ideais revolucionários se depara com seu duplo.Seu outro eu é alienado, despreocupado com questões políticas, e se interessa mesmo é por sexo, sempre em busca da garota por quem se atrai.O diretor utilizou textos de Artaud extraídos de "O teatro e seu duplo", e concluiu a obra com uma cena que, hoje em dia, pode causar náusea, ou, quem sabe, um riso irônico: ambos os duplos ensaiam um suicídio, eles percebem enfim que constituem duas faces de uma mesma moeda, e perguntam-se sobre qual deles sobreviverá no futuro.A conclusão: só o tempo dirá.


Hoje o filme pode causar uma certa náusea, ou, quem sabe, um risinho irônico.

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