sábado, 31 de julho de 2010

Corpo e máquina:

Aceno para a tentação de esboçar um histórico da assimilação do corpo à máquina.Desta forma, poderíamos tocar em Frederic Taylor, que em 1911 propôs-se ao estudo dos movimentos físicos efetuados por trabalhadores de modo a possibilitar sua gerência em função da eficiência na produção industrial.Meyerhold, distante na Rússia, descobre Taylor e se interessa por suas ideias que resgata – junto a reflexologia, muito em voga na época – na formulação da biomecânica, um conjunto de vinte e cinco exercícios que teriam por objetivo o desenvolvimento do ator por ele idealizado.
Uma outra imagem retoma sempre que tratamos do assunto: Chaplin engendrado nas engrenagens da máquina industrial (…).O modernismo, que viu-se em face da querela entre corpo e máquina, dilui-se na presente associação entre ambos.Lá, o homem que se vê ameaçado pelas máquinas industriais, aqui, aquele que tem na máquina uma presença imprescindível.
O corpo enquanto maquina dual; a não-possibilidade do homem enquanto objeto de arte; a supermarionete craiguiana; o corpo como máquina desejante (Deleuze), e tantas outras assombrações pós-modernas.A história da relação entre corpo e máquina segue perene pelos traços do tempo e apresenta-se de maneira evidente quando o assunto é o corpo no teatro.
Mesmo o conceito de “organicidade” - tão caro a alguns estudiosos do trabalho do ator – depara-se com o problema da máquina.Paula Sibilia é autora de um livro cujo título já pode a esses gerar curiosidade: “O homem pós-orgânico:corpo, subjetividade e tecnologias digitais”.A autora esboça um quadro atual da questão tomando uma série de referências – bem no estilo pós-moderno.

Fica, de tal modo, sugestões de leituras para quem tem na curiosidade um fomento da investigação:
CRAIG,Gordon.Del Arte Del Teatro.Buenos Aires:Liberia Hachette,1977.
DELEUZE,Gilles & GUATARRI,Felix.Anti Edipus:capitalism and schizophrenia.Mineapolis and London:University of Minesota press,2001.
MEYERHOLD,Vsevolod.Textos Teóricos.Madri:Fundamentos,1971.
CONRADO,Aldomar (org.).O Teatro de Meyerhold.São Paulo: Civilização Brasileira,1969.Trad.Aldomar Conrado.
SIBILIA,Paula.O homem pós-orgânico:corpo, subjetividade e tecnologias digitais.Rio de Janeiro:Relume Dumará,2002
TAYLOR,Frederick.Ptinciples of scientific management.Forgotten books.org,2008.Tradução nossa.Como disponível em http://books.google.com/books/p/pub-4297897631756504?id=4qM7yJKC_nkC&printsec=frontcover&dq=Frederic+Taylor&cd=2#v=onepage&q=&f=false visitado em 28 de março de 2010.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Encontro com Hans-Thies Lehmann:

 

 E afinal de contas: o que é o teatro “pós-dramático”? O leitor terá a única oportunidade de buscar uma resposta a essa pergunta concedida por Hans-Thies Lehmann, professor de estudos teatrais da universidade Johann Wolfgang Goethe e autor de “Teatro Pós Dramático”.

Ex-aluno de Peter Szondi - autor de "Teoria do drama moderno"- Lehmann segue a história tratando do teatro pós-dramático, o qual é também referenciado como teatro pós-brechtiano, ou, em algumas ocasioões, teatro pós-moderno.Dada a importância de Lehmann na atualidade, é mais do que recomendável aos interessados em teatro, perfórmance, dramaturgia, pós-modernidade e assuntos afins, comparecer ao evento.

Os interessados deverão apresentar-se às 19h do dia 3 de agosto no SESC Pompéia-SP.O encontro está marcado para as oito, mas a lotação é de 110 lugares, sendo necessária a retirada de senha com uma hora de antecedência.

Maiores informações no site www.sescsp.org.br, pelo twitter www.twitter.com/sescpompeia, ou ainda pelos telefones:

(11) 3871 7700  ou 0800 118220

Ler o livro é recomendado.Participar do encontro é insubstituível.

domingo, 25 de julho de 2010

Est-Ética

Gritei em alta voz: Estética !
Respondeu-me em eco o tempo: ética.

Encontro com Antunes Filho

 

Antunes Filho é o diretor teatral brasileiro  já consagrado internacionalmente por montagens como Macunaíma, Romeu e Julieta, Medéia, entre tantas outras.Desviem para o youtube a fim de assistir as demais partes deste vídeo.

sábado, 24 de julho de 2010

Encontro com Eugenio Barba

 

Eugenio Barba fala sobre a função do teatro na contemporaneidade.Barba começou sua trajetória no teatro nos anos sessentas, ao lado de Jerzy Grotowski, a quem considera seu mestre.Em 1964 fundou o Odin Teatret, e em 1988 a ISTA (International School of Theatre Antropology), que reúne anualmente pesquisadores da antropologia teatral.O vídeo também traz a atriz Julia Valey, que integra o Odin e acompanha Barba em sua jornada.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Partner




Os estudantes revoltosos, em maio de 1968, bradavam em alto volume: é proibido proibir.O lema ecoou por todo o mundo.No Brasil foi Caetano quem, junto aos Mutantes, utilizaram-se do lema da revolução estudantil como grito de ordem na música homônima cantada no Festival da Música diante de uma multidão que, nos dizeres do próprio Caetano, não entendia nada.Resultado: talvez a vaia mais famosa da história dos festivais.


Antonin Artaud foi elegido pelos estudantes revolucionários.Sua figura transformou-se, no jogo da revolução, num emblema anárquico a favor dos ideais da revolução estudantil.Martin Esslin, autor de "Artaud", livro que traça com propriedade a história de seu título, traz uma breve conclusão que debruça-se sobre o uso de Artaud com fins revolucionários em 1968.Esslin critica os estudantes, que, como vislumbro nas palavras do autor, não compartilhavam da dor de Artaud.É provável que eles mal conheciam sua trajetória, mais provável ainda, que nunca tenham passado por nenhum hospital pisiquiátrico ou sido expostos a tratamentos de eletrochoques.Mas o que dizer ? A história é a leitura da história (...).




Bernardo Bertolucci dirigiu na época um filme que se transformou numa pintura clara do quadro de 1968: trata-se de "Partner".Na película, um jovem entusiasta envolto em ideais revolucionários se depara com seu duplo.Seu outro eu é alienado, despreocupado com questões políticas, e se interessa mesmo é por sexo, sempre em busca da garota por quem se atrai.O diretor utilizou textos de Artaud extraídos de "O teatro e seu duplo", e concluiu a obra com uma cena que, hoje em dia, pode causar náusea, ou, quem sabe, um riso irônico: ambos os duplos ensaiam um suicídio, eles percebem enfim que constituem duas faces de uma mesma moeda, e perguntam-se sobre qual deles sobreviverá no futuro.A conclusão: só o tempo dirá.


Hoje o filme pode causar uma certa náusea, ou, quem sabe, um risinho irônico.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Tecido no tempo-espaço:

 

Ainda nos dias atuais, quando se fala em dramaturgia, a primeira imagem que vem à mente da maioria das pessoas seja, muito provavelmente, aquela dos grandes clássicos de Shakespeare, ou então das grandes peças de Moliérè, ou, ainda, das ontológicas tragédias gregas de Ésquilo, Sófocles ou Euripedes, e também das comedias de Plauto, Terêncio ou Aristófanes, enfim: letra.

Cabe ampliar a noção de dramaturgia.Por dramaturgia, podemos entender não apenas o texto literário escrito, mas também todo o conjunto de “textos” outros que compõe a encenação.Desta forma, podemos falar em “dramaturgias”, no plural: a dramaturgia da luz, do som, do ator, e a dramaturgia do diretor.

Cada uma destas exercem um papel fundamental na construção de um discurso cênico.O pensar o texto espetacular como um complexo sígnico composto por dramaturgias diversas não constitui detrimento da importância de cada uma destas dramaturgias, mas abre espaço para a análise de um espetáculo sob uma perspectiva mais ampliada.Podemos falar em uma dramaturgia que não preze pelo estabelecimento de uma linha lógico-causal, ou mesmo que dispense o texto falado.É interessante resgatar o sentido da palavra “drama”, que, em grego significa “ação”.Vejam o que afirma Eugenio Barba quando se refere ao termo “dramaturgia” em “A arte secreta do ator”:

 

“A palavra “texto”, antes de se referir a um texto escrito ou falado, impresso ou manuscrito, significa “tecendo junto”.Neste sentido, não há representação que não tenha “texto”.Aquilo que diz respeito ao texto (a tecedura) da representação pode ser definido como “dramaturgia”, isto é, drama-ergon, isto é, o “trabalho das ações”  na representação.A maneira pela qual as ações trabalham é a trama (BARBA,1995,p.68).

 

Texto espetacular: um tecido polisíginico escrito no tempo-espaço, e, paradoxalmente, que se corroi enquanto se constroi, porque manifesto no aqui e agora.Espero que este post ajude a ampliar a noções de texto e de dramaturgia, ou, ao menos, plantar questões motoras naqueles que lerem estes rabiscos em pixel.

 

Recomendo:

 

BARBA,Eugenio & SAVAREZI, Nicola. A Arte Secreta do Ator: dicionário de Antropologia Teatral.Campinas:HUCITEC-UNICAMP,1995. Trad.Luís Otávio Burnier,Carlos Roberto Simioni, Ricardo Puccetti,Hitoshi Nomura,Márcia Strazzacappa,Walesca Silverberg e André Telles.

BARTHES,Roland.Elementos da semiologia.São Paulo:Cultrix,1972.2ª edição.Trad.Izidoro Blikstein.

GUINSBURG,Jacó (Org.).Semiologia do teatro.São Paulo:Perspectiva,1988.2a edição.

domingo, 18 de julho de 2010

Folha em branco

 

(...) devem existir atores baixinhos e gordos, altos e magros,os que se mexem rápido, os que se arrastam pesadamente.Que tanto o corpo gordo e molenga quanto o que é jovem e ágil tenham uma sensibilidade igualmente apurada.

(...) nenhuma experiência nova e original é possível se não houver um espaço puro, virgem, pronto para recebê-la.

(…)

Um corpo destreinado é como um instrumento desafinado (...).Quando o instrumento do ator, seu corpo, é afinado pelos exercícios, desaparecem as tensões e os hábitos desnecessários.(...) Até mesmo um ator de larga experiência, sempre que vai retomar seu trabalho, quando se vê na borda do tapete sente esse medo de voltar – medo do vazio dentro de si mesmo e do vazio no espaço.Imediatamente, ele trata de preencher o vazio para livrar-se do medo, tentando achar alguma coisa pra dizer ou fazer.Sentar-se imóvel ou ficar quieto requer muita coragem.(...)Quando atua bem, não é porque elaborou previamente uma composição mental, mas sim porque criou um vazio livre de pânico dentro de si.

 

Vale a pena ler:

BROOK,Peter.A porta aberta:reflexões sobre a interpretação e o teatro.Rio de Janeiro:Civilização Brasileira,2002.3ª edição.Trad.Antônio Mercado.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Um comentário sobre o “pós-dramático”:

 

   Quando nos voltamos ao abrangente conjunto de características do dito teatro pós-dramático, podemos perceber os rastros do passado evidenciando-se em cada "novidade" da última hora.

  O uso do vídeo remonta a experiências que já vinham sendo desenvolvidas por Piscator, que, aliás, exerceu forte influência sobre Brecht.Quanto a dizer que o teatro pós-dramático é novo por seu aspecto "high tech", ora, Deus ex machina: os gregos já utilizavam brinquedinhos bem sofisticados pra época, sua maquinária está para seu tempo como as grandes estruturas espetaculares estão para nossos dias.

   Mesmo a não-submissão ao texto dramático também não é invenção do teatro pós-moderno - título que bem pode servir como sinônimo de pós-dramático - já na commedia dell'arte não era o texto o senhor unânime da representação teatral.Também o teatro oriental não tem o texto dramático como elemento essencial.

    Fica a questão: o teatro pós-dramático é um teatro que quebra com padrões "dramáticos"? Talvez, mas, ainda assim, somente - e tão somente - se reduzirmos o drama ao texto literário, à literatura dramática.É preciso lembrar que a palavra drama vem do grego - sim, eles, os gregos, denovo ! - e significa "ação".

   Fecho com outra pergunta: é o teatro "pós-dramático" um teatro novo ? A opinião deste escritor: tão novo quanto velho: passim, nunca enfim, eterno retorno ...

E por que não dar uma lida em :

LEHMANN,Hans-Thies.O teatro pós-dramático.São Paulo:Cosacnayfy,2007.Trad.Pedro Süssekind

RUDLIN,John.Commedia Dell’Arte:an actor’s handbook.London and New York Taylor & Francis Group.9th editon.Tradução nossa.

BERTHOLD,Margot.História Mundial do Teatro.São Paulo,Perspectiva,2001.Trad. Maria Paula V. Zurawski, J. Guinsburg,Sérgio Coelho e Clóvis Garcia.

sábado, 10 de julho de 2010

As palavras e o tempo

 

Apenas a ação é viva mas só as palavras permanecem.

Eugenio Barba

A história do teatro no nosso século não se limita à história dos espetáculos. Basta apenas confrontar o conteúdo de qualquer livro de história com o que é encontrado nas crônicas da época para verificar como grande parte do iceberg do teatro está sob a historiografia.


Fabrizio Cruciani

 

O papel do historiador é o de tentar plasmar em letra aquilo que, antes, fora ação.Constitui, portanto, uma tarefa em constante construção, na medida em que a palavra, ainda que permanente, possui um que de perecibilidade.Ela esta sujeita em sua aparente imutabilidade à força do tempo, tal qual o concreto, a rocha que transforma-se silenciosamente.

A leitura dos textos diversos que tratam da história do teatro em suas mais distintas perspectivas transparece algo de indizível: aquilo que fora o antes, o tempo que não retorna, mas que afirma-se – passado no presente – através dos rastros daqueles que por aqui caminharam.Podemos assim traçar nosso próprio caminho sem perder de vista o percurso percorrido pelos que aqui já estiveram.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

…eterno retorno ….

 

Teatro pobre: Termo forjado por Grotowski para qualificar seu estilo de encenação baseado numa extrema economia de recursos cênicos (cenários, acessórios, figurinos) e preenchendo esse espaço por uma grande intensidade de atuação e um aprofundamento da relação ator/espectador (…).Essa tendência à pobreza é muito marcada na encenação contemporânea [Peter Brook e o Living Theatre, por exemplo] por razões mais estéticas que econômicas.      (Dicionário de teatro de Patrice Pavis).

Pela eliminação gradual de tudo que se mostrou supérfluo, percebemos que o teatro pode existir sem maquilagem, sem figurino especial e sem cenografia, sem um espaço isolado para a representação (palco), sem efeitos sonoros e luminosos, etc.Só não pode existir sem o relacionamento ator-espectador, de comunhão perceptiva, direta, viva (GROTOWSKI,1976,p.5).

 

 

 

Pesquisando os mais diversos princípios e correntes do realismo, do naturalismo, do futurismo,da estatuária, da arquitetura, da estilização por meio de cortinas, paraventos, telas transparentes e efeitos de luz, chego à conclusão de que nenhum desses meios fornece ao ator o fundo que sua arte reclama (...)Quem manda no palco é o ator (STANISLAVSKI,Minha vida na arte).

 

E, enquanto não é mais professado entre os classicistas que os primeiros teatros eram de fato picadeiros onde os trabalhadores dançavam quando a colheita tinha acabado, foi justamente esta esquecida característica que atraiu Copeau tanto para o palco grego quanto para a arena circence; nestes similares espaços abertos a imaginação está apta a surpreender-se livremente, e a decoração não é a questão principal.Nestes espaços tudo se torna responsabilidade do ator (…)As mais citadas palavras de Copeau são ‘qu’on nous laisse un théteau nu! (De-nos um palco nu!)Ele criou a primeira casa de apresentações do mundo moderno lançando um olhar para o passado (Thomas Leabhart, Modern and Post-Modern Mime).

Bibliografia:

GROTOWSKI,Jerzy.Em busca de um teatro pobre.Rio de Janeiro:Civilização Brasileira,1976.Trad.Aldomar Conrado.

LEABHART,Thomas.Modern and Post-modern Mime.London:Macmillan Press,1989.Tradução nossa.

RAEDERS,Georges.O cinquentenário da fundação do Vieux Colombier.Porto Alegre:Editora da Universidade do Rio Grande do Sul, 1965.

STANISLÁVSKI,Constantin.Minha vida na arte.São Paulo:Anhembi ltda,1956.Trad.Esther Mesquita.

PAVIS,Patrice.Dicionário de teatro.São Paulo:Perspectiva,2007.3ª edição.Trad.Jacó Guinsburg e Maria Lúcia Pereira.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Saraband

 

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Vida:palavra que não cabe em si.Causa, não obstante, um sentimento tão indizível quanto o substantivo que inicia o presente texto o deparar-se com um discurso artístico que consiga plasmar em som ou imagem uma representação digna da beleza enigmática do espírito humano.

Bergman concluiu sua obra-em-vida com este texto maestralmente esculpido em imagem-tempo.Quiça esteja ele, para a história do cinema, como Bach está para a história da música.

*Cabe notar que o filme aqui referenciado constitui continuação a um outro que Bergman dirigira anos antes, “Cenas de um casamento”, no qual o diretor trabalhou ao lado dos mesmos atores que protagonizaram “Saraband”.Fica a sugestão: assistam os dois.Aliás, não só a estes, mas a toda obra de Bergman !

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Especial Judith Malina (Living Theater):

 

Entrevista concedida por Judith Malina à Gerald Thomas.Em inglês.Precisa de alguma descrição ?

Remetam ao youtube para a segunda parte.

E aqueles que se interessam por Malina e o Living Theatre provavelmente apreciarão as entrevistas que seguem.Caso encontre algo de interessante na internet, compartilhe.Let's share...