quinta-feira, 23 de maio de 2013

Como eu me sinto quando... é meu aniversário.

Sábado é meu aniversário, então, acho que vale a pena tentar tirar algum proveito disso. Como se coubesse em palavras, decidi escrever:


No próximo sábado, o número que designa os anos de minha vida, aquele que pronuncio quando perguntam por minha idade, celebrará o tempo como fato inescapável. Perdido em nomes e sobrenomes de minha extensa bibliografia, pergunto-me agora onde deixei aquele menino tímido de óculos que ouvia de seu pai as histórias de uma vida outra, como se grandes contos heroicos de um destemido cavaleiro fossem. Do silêncio de meu quarto, sozinho, dedico-me à encontrar as palavras mais exatas para descrever meus pensamentos, para materializar no papel o que foge à qualquer representação última, a saber, a vida, o que fui, o que vi, o que não sei que sei, e o que, em suma, sou, antes de sumir por ai. Silenciei em algum canto aquela criança capaz de se apaixonar e, adulto, casei-me com a solidão. Tenho saudades de mim, às vezes, e às vezes, só, reafirmo minha solidão como escudo inquebrantável.

A vida é cheia de pequenas mortes, e eu já estive em pelo menos três velórios, sendo deles o de meu pai, certamente, o mais marcante até aqui. Aquele colo seguro, era então um cadáver sem vida envolto num caixão de madeira que, dias antes, tive a oportunidade de ver na loja, quando com minha mãe fui conferir o preço do produto, do última armadura que cobriria meu cavaleiro destemido. Guardo também com frescor a imagem das coroas de flores que recebeu, já dentro do túmulo, sob o aceno que com minha mãe a ele votei.


O hábito da leitura é refúgio. Ler é, pra mim, como travar um diálogo com os mortos. São eles essas vozes que ecoam desde o passado para lembrar-nos que aquilo que construímos, ainda que também sujeito ao tempo, vence a morte. Bem notou Santo Agostinho de Hipona, já bem antes de Sigmund Freud: existe o passado no presente, o presente, e o futuro que no presente se manifesta como anseio pelo porvir, dúvida e sonho. É tragicômica a condição humana, revolta contra Deus, para quem caminha,  e ao mesmo tempo resposta para os por quês da vida, e pergunta pertinente e persistente que anima os nervos de nós, mortais, e mesmo daqueles que O tem como objeto de recusa, como quem deseja o parricídio do Pai legislador em nome de uma ideal liberdade que se revela, na verdade, como ditadura do desejo e da ira, libido dominandi, o império brutal do homem, o lobo do homem, sobre o próprio homem, seu fiel escravo. Em face da história, à qual estamos sujeitos e da qual nos queremos senhores incontestes, colhemos os destroços da Babel pós-moderna, perdida em mil línguas sem sentido, simulacros de simulacros, de simulacros, de simulacros...

E o tempo urge, esse devir, que quereríamos aprisionar. O meu presente é cheio de passado e de futuro. São nomes, pessoas, lugares, são desejos, medos, pequenas certezas e incertezas mil. São desencontros, desagrados, desentendimentos, desalentos e desacatos contra meu passado, contra aquele que acreditava muito na humanidade, mas duvidava profundamente de Deus, contra quem, hoje, ri desiludido da miséria humana, isto é, de si mesmo, contra o menino que fui, e que ainda vive em mim, mas que não mais sou, pelo que sei, pelo pouco que sei de mim. Dentro de algumas horas o relógio, este marcador cartesiano, matemático, decretará uma sentença, ganhará como que um aspecto metafísico: é o tempo, é meu dia. Todo aniversário tem um pouco de morte. Talvez a vida seja mesmo isso: pequenas mortes que nos fazem cada vez mais nós, e assim, de pouco em pouco, enfim, sós.

Jeferson Torres

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Da arte de escrever:

  •  Uma amiga que está em crise com seu tcc pediu alguma ajuda com a construção do texto. O que respondi, decidi postar aqui, já que pode ajudar outras pessoas que enfrentam o mesmo problema.
     
    Quer uma sugestão? Tal como numa peça de teatro tradicional, os livros podem ser divididos em capítulos. Mas como dividir em capítulos?! Ora, pense no discurso como uma estrada. Cada capítulo deve ter razão de ser e vínculo com os demais capítulos em função de uma obra orgânica. Então, pense num começo, ao menos, se não tem noção exata de onde quer chegar, o que seria bem melhor, evidentemente. Pense, sintetize a ideia em poucas palavras, e você terá um título. Ele pode ser também uma pergunta a ser respondida ou instigada pelo texto.
     
    Caso contrário, o que é bem melhor, tenha já em mente todo o percurso, e comece pelo primeiro passo, a primeira letra. De letra em letra se constroi a palavra, momento preciso no tempo da frase, existência inegável na concretude do texto que corre, onde você está escondida em cada vocábulo. Por fim, de tanto tecer, terás um tcc. Então larga esse facebook e vá tc. 
     
    Ah, e sempre tenha um bom dicionário ao seu lado enquanto escreve. Afirmam alguns que o dicionário é uma ferramenta necessária somente para acompanhar a leitura, mas ele é fundamental também durante a escrita. Sabe quando você se cansou daquela mesma palavra já batida? Sabe quando falta o verbo? Recorra ao dicionário. Parta de uma palavra que lhe vem a mente. Digamos que você pensa em "O corpo dança pelo que é, e se é, é em movimento, devir. E como uma espécie de rio, corrente que liberta" Nessa frase, que criei agora, aproveitei-me da aparente antítese entre corrente, substantivo que tem dois significados. O leitor perceberá o sentido que coloco e a imagem criada ganha interesse. Lembre-se que palavras são imagens, elas evocam imagens à nossa mente e são, em si, elas mesmas, por si, também imagens. Você lê um texto, você o vê, e se é cego, pode mesmo tocá-lo - como na leitura Braile - que é uma outra forma de ver. Mas usei demais a palavra "ver". Então, recorro ao dicionário...  
     
    1 Captar imagem por meio dos olhos; ENXERGAR. [td.: Consegue ver as letras menores?] [int.: Este enfermo não vê mais.]
    2 Estar presente; assistir a. [td.: A jovem viu o acidente de carro.]
    3 Perceber por meio da vista; ACHAR; OBSERVAR. [td.: O jovem não via graça em nada.]
    4 Chegar a uma conclusão; CONCLUIR; INFERIR. [td.: Dá para ver que foram enganados.]
    5 Pensar sobre; EXAMINAR. [td.: Vamos ver o que podemos fazer.]
    6 Ter contato (com alguém ou entre si); ENCONTRAR-SE. [td.: Você tem visto o seu amigo?]
    7 Observar (a si mesmo); MIRAR-SE. [td.: Ficava horas vendo -se no espelho.]
    8 Surpreender-se (em uma situação). [td.: De repente, vi -me contando piadas.]
    9 Prestar serviço profissional. [td.: O pediatra foi ver a criança doente.]
    10 Manter contato constante com; CONVIVER. [td.: Depois que se casou, não viu mais o pai.]
    11 Ir (a algum lugar) para conhecer; VISITAR. [td.: Gostaria de ver Paris na primavera.]
    12 Ter consulta com. [td.: Você está muito magra, precisa ver um nutricionista.]
    13 Constatar, perceber. [td.: O senhor não vê que não posso aceitar tal proposta?]
    14 Tomar cuidado em; atentar em; REPARAR. [td.: Ela nem viu a cara do engraçadinho!]
    15 Ter a compreensão de. [td.: Ele logo viu que não poderia fazer tal coisa.]
    16 Observar, verificar. [td.: Foi ver como estava o tempo.]
    17 Fig. Ter ideias irreais ou absurdas sobre (algo); FANTASIAR. [td.: Ela anda vendo coisas.]
    18 Reconhecer como bom. [tdr. + em: Ela vê muitas virtudes no marido.]
    19 Fazer vir à memória; EVOCAR. [td.: Quando pensa na infância, vê sempre a mãe curvada sobre o fogão.]
    20 Fazer perguntas ou indagações sobre; INDAGAR; PERGUNTAR. [td.: Vá ver o que este homem está querendo!] [tr. + com: Se precisar dos recibos, veja com meu contador.]
    21 Ir à procura de (algo). [int.: Se está procurando a carteira, veja encima da mesinha.]
    22 Procurar avaliar; CALCULAR. [td.: Antes de criticar, você tem que ver os bons resultados do time.]
    23 Fazer a avaliação de; CONSIDERAR; JULGAR. [td.: Vê o cunhado com maus olhos.] [tdp.: Via no filho mais novo seu herdeiro político.]
    24 Julgar-se, considerar-se. [tdp.: Viu -se rebaixado diante do irmão.]
    25 Tentar (algo) para alcançar um objetivo. [td.: Fui ver se conseguia entrar, mas não consegui.]
    26 Procurar fazer ou providenciar (algo) para (alguém). [tdi. + para: Espere aí que eu vou ver uma comidinha gostosa para você!]

    [F.: Do lat. videre. Hom./Par.: vede(s) [ê] (fl.), vede(s) (fl. de vedar); verás (fl.), veraz (a2g.), Veraz (antr.); vê(s) (fl.), vê(s) (sm.[pl.]); verão (fl.), verão (sm.); via(s) (fl.), via(s) (sf.[pl.]); vira(s) (fl.), vira(s) (sf. e sm.[pl.]); veem (fl.), vêm (fl. de vir); veria (fl.), Véria (top.), viria (fl. de vir); verias (fl.), virias (fl. de vir); vês (fl.), vez (sf.), Vez (top.); víramos (fl.), viramos (fl. de virar); víreis (fl.), vireis (fl. de vir e virar).]
     
     
     Viu? Mas viu em que sentido? Percebeu quanta coisa surge a partir da palavra ver?! Assim, você amplia seu vocabulário e passa a expressar-se melhor. Escrever um texto é como lapidar uma pedra para buscar a forma que está lá segredada. "Mergulha no universo das palavras", seu texto é você imersa nesse universo, buscando com a máxima exatidão expressão o que em ti, por ora, é desejo e ansiedade. Então ponha os pés no chão e respire fundo. Escrever é preciso, viver não é preciso.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Lobão, Olavo de Carvalho e os intelectuais gostosões:


O conceito de "alienação", do léxico marxista, mas já agregado ao vocabulário cotidiano dos pseudo-intelectuais de botique que abundam no cenário acadêmico brasileiro, cabe bem para explicar o que ocorre com respeito a Olavo de Carvalho. Para Marx, a alienação é uma condição à qual está sujeito o proletário que, muito embora seja agente produtor dos bens de consumo, está alienado pelo sistema capitalista e, assim, não se vê na obra criada e comercializada que atende aos interesses do burguês. O que vivemos é uma situação em parte semelhante: aqueles que ecoam as opiniões da moda, que repetem os discursos que aprenderam com intelectuais orgânicos como Marilena Chauí, ou que ouviram por meio de nomes da MPB que assombram nossas mentes, só fazem repercutir o mais do mesmo e, assim, alimentam o mito do proletário rei que Lula conquistou para si e que grande parte de seus nécios seguidores fazem questão de perpetuar. Sendo assim, o indivíduo alienado, frustrado, e ignorante, repetindo o dito em filmes que romantizaram a imagem de Che, por exemplo, ao vestir vermelho e reclamar da opressão da burguesia, saboreia pelo breve instante de uma frase de efeito, o gosto da vitória: decrépitos brutais são eles, os cruéis senhores da direita opressora capitalista - diz o papagaio, sem saber-se, no entanto, papagaio e, por justamente na medida de seu não saber, crente na sua própria estupidez que toma como o inverso. E nessa marcha caminhamos, com intelectuais orgânicos (conceito gramsciano, pesquisem pra entender) que assinam historiografias tendenciosas e que, depois, se transformam na "versão oficial" dos fatos ensinada nas escolas. Com efeito, temos  o culto a psicopatas que, como esses que agora os louvam, usavam rolex, mas fingem compaixão com a classe operária, essa estranha entidade que eles não conhecem de fato, mas insistem em reduzir a estatísticas dúbias e usar esses números como engrenagens de um sistema que solidifica a tragicomédia da política moderna: conquistar o poder e garantí-lo a qualquer custo. Não é de se estranhar que em nosso tempo, uma voz como a de Lobão seja sacrificada pelo "politicamente correto" e pela alcateia adestrada da esquerda: é a tentativa de calar o solitário lobo, ovelha negra, pela espiral do silêncio: é o mesmo que tem sido feito desde um bom tempo com o jornalista, filósofo, ensaísta e professor de filosofia Olavo de Carvalho.

Ver:

http://www.olavodecarvalho.org/semana/110324dc.html

e

http://www.olavodecarvalho.org/semana/110407dc.html


terça-feira, 7 de maio de 2013

Lobão tem razão:

Lobão sempre falou em suas músicas sobre liberdade. Ele, assim como Raul, eram antes anarquistas que exatamente marxistas, ainda que o primeiro tenha sido aproveitado pelo marxismo cultural. Só podia dar nisso. Uma hora ou outra perceberia como a coisa está andando e daria voz aos opositores do processo de tomada do poder e censura por parte da esquerda organizada. Falta a direita emergir organizadamente também.

Em suas entrevistas, Lobão promoveu seu último livro. Talvez valha a pena ler. Lobão confessa, lembrando de 1989, quando apoiou Lula cantando o lema de sua campanha em pleno programa do Faustão no dia mesmo da eleição, que na época nada entendia sobre política. Confesso o mesmo: já apoiei Lula, quando não sabia nada sobre política. Hoje eu sou de direita, e digo com Ronald Reagan, ex-presidente dos EUA:


O que é um comunista? Bem, é alguém que leu Marx e Lênin. Como é um anti comunista? É alguém que compreendeu Marx e Lênin. - Ronald Reagan.

Creio que Lobão possa hoje dizer o mesmo. Para ver as entrevistas de Lobão:

http://agoraetarde.band.uol.com.br/videos/agora-e-tarde/14444844/lobao-fala-sobre-seu-novo-livro-no-agora-e-tarde.html

Acompanhem também a entrevista conferida ao Band News:

https://www.youtube.com/watch?v=Ia4SnVLkQS0