quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Da revolta do homem moderno:



O que é um comunista? Bem, é alguém que leu Marx e Lênin. Como é um anti comunista? É alguém que compreendeu Marx e Lênin. - Ronald Reagan.

A ideia mesma segundo a qual pode uma organização, seja ela qual for, representar de modo honesto a coletividade, carece de compreensão sobre o que é a "coletividade", sobretudo quando trata-se do "povo". Eu vos pergunto: o que é o povo? O que pensa a "população brasileira"? Somos católicos, budistas, ateus, judeus, muçulmanos, negros, brancos, mulatos, índios, homens, mulheres, gays, lésbicas, crianças, mendigos, somos uma massa inominável, que no entanto recebe a alcunha de "povo", palavra esta que é, em si, já uma simplificação. No entanto, quando uso esses rótulos acima, também estabeleço simplificações. Quando no século XIX Karl Marx e Engels teorizaram o comunismo/socialismo, eles também partiram de concepções reducionais: reduziram o "povo" ao composto formado por duas classes antitéticas, burguesia e proletariado, e reduziram a história, à história da luta de classes. Assim, como se deuses fossem, sugerem conhecer a mecânica mesma do tempo, como profetas demiurgos do mundo novo, prometendo uma espécie de escatologia realizada.


Vejamos o que Marx propõe em seu "Manifesto do Partido Comunista", assinado junto a Friedich Engels:

1.Expropriação da propriedade fundiária e emprego das rendas fundiárias para despesas do Estado .2. Pesado imposto progressivo. 3. Abolição do direito de herança. 4. Confiscação da propriedade de todos os emigrantes e rebeldes. 5. Centralização do crédito nas mãos do Estado, através de um banco nacional com capital de Estado e monopólio exclusivo. 6. Centralização do sistema de transportes nas mãos do Estado. 7. Multiplicação das fábricas nacionais, dos instrumentos de produção, arroteamento e melhoramento dos terrenos de acordo com um plano comunitário. 8. Obrigatoriedade do trabalho para todos, instituição de exércitos industriais, em especial para a agricultura. 9. Unificação da exploração da agricultura e da indústria, actuação com vista à eliminação gradual da diferença entre cidade e campo. 10. Educação pública e gratuita de todas as crianças. Eliminação do trabalho das crianças nas fábricas na sua forma hodierna. Unificação da educação com a produção material, etc (MARX e ENGELS (B), 1997,s/p).

A fim de celebrar a vitória do proletariado sobre a opressão da burguesia, caberia, pois, seguir os passos propostos, desde o progressivo acúmulo de poder econômico nas mãos do Estado, pela aplicação de impostos cada vez mais altos, com o fim do direito a herança, e a educação garantida pelo Estado, para o Estado, em nome do Estado, enfim. Foi propositalmente que frisei os pontos acima, para que possa retomá-los mais a frente, posto serem de vital importância. Reforço: o Estado deveria, segundo Marx, representar o proletariado:

O proletariado usará a sua dominação política para arrancar a pouco e pouco todo o capital à burguesia, para centralizar todos os instrumentos de produção na mão do Estado, i. é, do proletariado organizado como classe dominante, e para multiplicar o mais rapidamente possível a massa das forças de produção (MARX e ENGELS (B), 1997, s/p).

Em 1917, com a revolução Russa, o regime czarista caiu, dando lugar ao comunismo de Lênin/Stálin. Com efeito, o Estado garantiu sua posição como poder estabelecido. Ditadura do proletariado? Não meus caros, ditadura SOBRE o proletariado. Basta conhecer o "Livro Negro do Comunismo", obra histórica escrita pela pena de historiadores do mundo todo, inclusive russos, para se ter uma certa noção dos horrores dos regimes stalinistas/leninistas, desde a revolução até a queda do Muro de Berlim. Foram mais de 100 milhões de mortos, um número que, não obstante supere em muito o do nazismo alemão (que aliás foi também uma forma de comunismo), é menos conhecido pelo simples fato de nossa educação estadual ter sido formada gradualmente pela mentalidade marxista, através do viés gramsciano, da "revolução cultural", sempre com o intuito de vencer o Estado, a política, sobre o império de Deus. Nesse momento, gostaria de convidá-los a um breve incurso metafísico. 


O cristianismo, de uma maneira geral, concebe na eternidade o mistério que, desde aqui, vislumbramos pela miopia própria da carne: o Éden é transposto a um âmbito metafísico, está para além do tempo, restando a nós, sobreviver à miséria da carne em função da conquista da paz celestial. O que ocorre na mentalidade revolucionária, de maneira geral - revolução francesa, comunismo, anarquismo, nazismo, etc - é a inversão dessa lógica: o paraíso deve ser aqui, o Éden terrestre do futuro prometido. Assim, Bakunin defendeu o anarquismo, Marx o comunismo, e tantos outros, outras ideias, mas tendo sempre o objetivo de estabelecer aqui o mundo de "paz eterna entre os seres humanos", que os cristãos, por sua vez, esperam no além. O escopo teórico que subsidia essas ideias, sempre co-existiram com o pensamento cristão, e acabaram por contagiá-lo, com a "teologia da libertação", por exemplo, é tal que não caberia numa enciclopédia. Mas o que estes que ai estão levantando tais bandeiras não percebem, ou antes percebem, mas não admitem perceber, é que todos eles são, como eu sou, como todos nós somos, miseráveis. Quando uso esse termo, não me refiro a questões econômicas. Falo de uma miséria moral que diz respeito à fraqueza humana, à covardia em face da consciência de sua finitude, de sua condenação ao tempo: morreremos, sabemos, e disso nos esquecemos para melhor viver, mas nos vendemos a preços bem baixos, e acabamos por mentir pra nós mesmos pra suportar uma dor indizível, constante, que é antes o mal em nós que o mal no mundo. Seja como for, projetar o "mal do mundo" no sistema, na burguesia, no vizinho, na religião, ou no time de futebol do adversário serve como desculpa, proporciona a catarse dos sentimentos e alivia a dor. 

A política é, ao menos desde Maquiavel, concebida como a luta pela conquista e segurança do poder, nada mais. Vale a pena lê-lo ao menos uma vez na vida pra pensar um pouco sobre seu "Príncipe", que tanto influenciou Antônio Gramsci. Pensemos na religião, ao menos por um breve momento, em seu aspecto político - com perdão aos religiosos, que talvez considerarão essa estratégia um ato herege. O catolicismo, por exemplo, determina valores morais, é contra a eutanásia, contra o aborto, condena o sexo antes do matrimônio - e por extensão o uso da camisinha - todos esses motivos pelos quais é atacado por todos os lados como representante dessa mentalidade "arcaica", ultrapassada, de "direita" (a esquerda demoniza esse termo), e retrógrada. Então eu os convido a imaginar, por ora, o fim da Igreja Católica, desse obscurantismo de mais de 2000 anos ...









De repente tudo parece lindo não é verdade? Você pode trepar gostoso com sua peguete, sem ouvir na TV que um velho qualquer disse na praça de São Pedro, que isso é contra a lei de Deus, ou que homossexualidade é pecado, etc, etc, etc. Seja como for, não deixará de ler o jornal, seja o de papel, seja o virtual. Provavelmente assistirá a TV, e talvez até criará um blog como o meu para divulgar você também suas ideias e fazê-las conhecidas na rede mundial de computadores. Tudo o que seus pais te ensinaram, o que seus professores professaram, o que a TV divulgou, o que os vídeos que você assistiu no YouTube, o que você leu nos livros, e o que seus amigos te disseram constituirá, não obstante, ingrediente de sua cosmo visão, e transparecerá de modo mais ou menos explicito em seus discursos, como tudo o que eu vi e vivi transparece no meu.

É possível que, sem perceber, acabe por apenas repetir o que seu professor te disse, o que a TV falou, o que viu no YouTube ou o que leu nos livros, sem perceber-se preso a essas redes invisíveis que movem sua subjetividade. Você poderá se tornar, como eu me tornei, um ateu convicto, que ri - mesmo que disfarçadamente - do padre de batina, esse "falso moralista hipócrita, comedor de criancinhas", e acha que Che Guevara, no entanto, foi um heroi, uma espécie de santo mártir da justiça social. É possível até que se filie a um partido político e alimente a fé na política, no mundo melhor do humanismo secular, na promessa de liberdade enfim, e pelo ópio da vaidade, nem perceberá que a utopia que lhe seduz é a prisão atraente que lhe engana, sob o pretexto de um futuro hipotético de liberdade, igualdade e fraternidade nunca plena. Alguns, de tão enebriados no prazer do poder, chegam mesmo a justificar morticínios como os de Che Guevara, e até de Stálin ou Hitler, em nome de seu "paraíso terrestre": eles mataram sim, mas em nome de um "mundo melhor" - seja o mundo melhor da burguesia derrotada pelo proletariado, ou do império da raça ariana sobre o mundo - foram "herois". E você? Fez o que?!" - afirmam estes que consideram-se mesmo representantes do futuro prometido pela utopia garantida ao porvir. Com a disseminação da ideologia marxista pela via educacional, assinada e garantida pelo Estado, é o que muitos jovens gritam pelas ruas. Eles participam de passeatas pelo orgulho gay, vestem camisas vermelhas com o "companheiro Che" estampado na frente (sem saber do massacre de homossexuais promovido em Che), e cantam músicas de protesto. Tem no peito uma certeza, a da vitória da utopia no futuro prometido, e nem percebem que, no fim das contas, apenas tentam preencher o vazio metafísico (o vazio existencial) do homem moderno, que matou Deus em nome de sua "liberdade", com promessas de paraíso terrestre, de gozo total da liberdade nunca plena no aqui e agora da vida terrenal.

Foram essas utopias que, desde a revolução francesa pelo menos, justificaram o derramamento de sangue que se espalhou ao redor do mundo, e é em nome do poder do "ser humano livre e iluminado", que essa barbárie persiste:

A filosofia francesa do século XVIII e, notadamente, o materialismo francês não foram somente uma luta contra as instituições políticas existentes, mas também contra a religião e a teologia dominante, e, ainda... contra toda a metafísica, tomada no sentido de uma "especulação entravada" em oposição a "uma filosofia racional - Karl Marx, em “A santa família”

É assim que Marx, pagando tributo aos iluministas, afirmará que:

A miséria religiosa constitui ao mesmo tempo a expressão da miséria real e o protesto contra a miséria real. A religião é o suspiro da criatura oprimida, o ânimo de um mundo sem coração, assim como o espírito de estados de coisas embrutecidos. Ela é o ópio do povo. A supressão [Aufhebung] da religião como felicidade ilusória do povo é a exigência da sua felicidade real. A exigência de que abandonem as ilusões acerca de uma condição é a exigência de que abandonem uma condição que necessita de ilusões. A crítica da religião é, pois, em germe, a crítica do vale de lágrimas, cuja auréola é a religião (MARX, 2010, p.145-146).


Assassinada a religião, resta a política. Resta o Estado, que se levanta como divindade do paraíso secular da humanidade iluminada. Mas tudo isso é ilusão. Continuamos e continuaremos condenados pela nossa própria liberdade, a viver as mesmas dores, a alimentar os mesmos vícios, a projetar no outro o ódio que temos de nós mesmos, e a pagar por nossas ações no tempo, condenados à finitude da vida, e à miséria humana, para além de qualquer política, para além de qualquer economia. O homem moderno, se revoltando contra Deus, revoltou-se contra a sua própria natureza, e hoje caminha desesperado pelo cemitério da humanidade, acorrentado por rédeas invisíveis que, quanto mais o sufocam, mais o fazem crer que ele é mesmo livre.




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