sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Guetos:



Hoje não basta ser gay, tem que levantar a bandeira do partido. Não basta ser cristão, tem que mandar todo mundo pro inferno e dizer-se, de si mesmo, que já tá salvo, amém! Não basta ser ateu, tem que formar um grupo de ateus, uma associação, e lutar contra aqueles que estão sedados pelo "ópio" da religião. Não basta ser mulçumano, tem que praticar a jihad guerreira - esse termo tem várias concepções dentro do islamismo - e matar qualquer que não creia em Alah. Não basta ser negro, tem que lutar contra os branquelos, essa raça de víboras escravocratas!

Eu acho que deveríamos fazer revoluções. A revolução dos ateus, a revolução dos evangélicos, a revolução dos negros, a revolução dos gays, enfim, a revolução de todos os oprimidos. Ai eles perceberiam que tanto os negros quanto os brancos tem preconceito uns contra os outros, e o negro pode ser preconceituoso tanto quanto o branco. E o ateu, contra o teísta, e por ai vai... Ai a gente viveria em guetos. O gueto dos homossexuais, o gueto dos heterossexuais, o gueto dos pansexuais também (por que não?) o gueto dos ateus, o gueto dos negros, o gueto dos brancos, o gueto dos judeus, o gueto dos mulçumanos - que continuariam a matarem-se entre si - o gueto dos negros, e por ai vai. Ai eles iam perceber que dentro desses guetos eles continuariam a ser oprimidos de alguma forma pelos seus semelhantes: os negros se oprimindo entre si, os ateus se oprimindo entre si, os cristãos se oprimindo entre si, os mulçumanos se oprimindo entre si, os brancos se oprimindo entre si, etc... Ai eles teriam de decidir por que tanta opressão! Caralho! Enfim, talvez, a gente compreenderia que existem sim valores morais objetivos, como o respeito à vida humana acima de tudo, e pararíamos com essa palhaçada de interpretar o outro como nada mais que um ente político rotulado pelo "grupo" ao qual pertence, e passaríamos a enxergá-lo como indivíduo, um, singular, uma pessoa, não uma etiqueta. Pronto! Falei! Quem curtir repasse...

2 comentários:

  1. Excelente, Jeferson! Estou de acordo com esta reflexão profunda que fazes. Aliás, esta é uma indagação que tenho feito durante um tempo quando encontrei pessoas com a índole, digamos, revolucionária que estavam, ao meu ver, muito mais ligadas a necessidades pessoais do que propriamente sociais. Muitos, eu diria, que pagariam por uma causa para poder exacerbar o seu desejo de poder pessoal, liderança e sede de destruição. Por isso acredito em uma "revolução aquariana", mais silenciosa e muito mais potente: aquela em que você revoluciona sem levantar bandeira, partindo mais de princípios éticos do que ideológicos, ou seja, você só transforma o Outro se conseguir transformar a Si Mesmo, num processo dialético de transformação em rede e ininterrupto!
    Enfim, é isso! Parabéns pelo texto e grato pela oportunidade de dialogar contigo neste processo de transformação silenciosamente revolucionária! Abraços

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  2. "(...)você só transforma o Outro se conseguir transformar a Si Mesmo"

    Revolução é pessoal mesmo. E a verdade é que o campo de ação de cada um é limitado por sua condição psico-bio-social. A gente pode mudar de emprego, mudar de casa, mudar de rumo, mudar atitudes, mas sem essa de acreditar que todo mundo tem que ser igual. É isso: o desejo revolucionário é movido por um sentimento ególatra: fazer o mundo à minha imagem e semelhança, como se fosse um demiurgo a criar um "admirável mundo novo". Nesse caso é impossível, mas é possível mudar a si próprio, isso é, mesmo que, não necessariamente, o outro vá mudar com isso, mas quando a gente muda em relação ao outro a imagem do outro em nós ganha outra cor, outra tonalidade. Por outro lado, infelizmente existem pessoas e grupos que feliz ou infelizmente viveriam melhor se não se tocassem mesmo. Tem algumas pessoas que simplesmente, dado a miopia que a mentalidade revolucionário provoca, simplesmente não conceguem conceber que alguém não concorde com ela ou não compartilhe da mesma imagem de mundo melhor.

    Muito obrigado por visitar e comentar no blog. Sigo aberto a críticas bem fundadas e quaisquer outros comentários. Forte abraço e muita sorte na vida Dico.

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