Discordo de Clodovil quando este afirma que os gays não devem ter orgulho do que são. Penso que, ao contrário, eles podem e devem, sim ter orgulho de serem o que são. A sexualidade é dimensão mesma da individualidade de cada um: somos seres sexuais, e devemos ter orgulho de quem somos, mas respeitando aqueles que discordam em gênero, número e grau de nossos pontos de vista e atitudes.
Não chamaria um gay de "anormal" - o que fica subentendido na frase "eu nasci de um homem normal e uma mulher normal" - porque eu penso que cada um é normal em si. Não considero a homossexualidade uma doença, uma anomalia, aberração ou coisa do tipo.
Se todos fossem respeitados igualmente, como seres individuais, singulares, que são, não precisaríamos de nada disso. Pergunto-me: quando que essa máxima, escrita na constituição brasileira: todos são iguais perante a lei, sem distinção de natureza: deixará de ser uma piada e passará a ser uma atitude, um ideal a ser praticado antes que proclamado ?
Não obstante, sou contra a aprovação do projeto de lei nº 122, de 2006. Na verdade, considero mesmo a lei nº 7.716, a qual o projeto visa revisar, um equívoco, e de aqui em diante tentarei expor minha visão sobre o caso. Minha posição, que certo contrasta diametralmente daquela da maioria, dá-se em função da minha descrença em qualquer "luta de classe". Não compreendo o complexo social a partir desta perspectiva. Pra mim o buraco é mais em baixo - bem mais embaixo - trata-se de uma guerra que se dá no indivíduo, para o indivíduo, contra si mesmo e contra seu próximo, por vezes a favor deste, num contínuo de tensão em distintas gradações que amplifica-se no cosmo social. Compreendidos como "classe", seja ela a classe dos gays, dos heteros, dos católicos, dos evangélicos, dos budistas, dos proletários ou da burguesia, resumimos o inominável à nomenclatura do grupo. Este grupo resume o indivíduo àquilo que o define, a saber, a "classe". É esse pensamento - de raiz marxista - que leva à redução do indivíduo àquilo que compreendemos por sua classe: não é o cristão, o ser humano individual e único, mas apenas "mais um cristão", ou seja, mais um engravatado, que vai à igreja, paga dízimo, lê a bíblia, etc: apenas mais um da "classe". O mesmo reducionismo aplica-se aos homossexuais: não é o homossexual, o ser humano único e singular, o indivíduo, mas "apenas mais um gay", apenas mais um "da classe", que é assim e assado, pensa assim, age assim, como o grupo, como "a classe". Não obstante, não observo com bons olhos a aparente pregação da liberdade total, a liberação de todas as drogas, e o ataque cada vez maior aos valores sobre os quais construímos a civilização moderna. Nesse ponto concordo com Clodovil: é preciso cuidado para não confundir liberdade com libertinagem. A democracia, quando mal gerida, caminha em direção à libertinagem, e é esta, o caos anárquico das vozes dissonantes sem direção, que abre espaço à imposição de regimes ditatoriais, pois uma sociedade que não conserva uma certa solidez em suas bases éticas fragiliza-se àquela que é mais impositiva e inflexível. A ética relativista pós-moderna caminha nesse sentido, e me faz vislumbrar uma ditadura mundial para um futuro próximo, o que consoa com as mais terríveis profecias apocalípticas.
Concluo meu discurso retomando o terceiro parágrafo desta redação:
Se todos fossem respeitados igualmente, como seres individuais, singulares, que são, não precisaríamos de nada disso. Pergunto-me: quando que essa máxima, escrita na constituição brasileira: todos são iguais perante a lei: deixará de ser uma piada e passará a ser uma atitude, um ideal a ser praticado antes que proclamado?
Diante do raciocínio classificatório que qualifica grupos antes de considerar as atitudes particulares de cada indivíduo sujeitas aos vigores da lei, considerando todos como iguais perante a constituição, não sou otimista quanto ao futuro.
E para aqueles que quiserem estudar um pouco o assunto, fica uma sugestão de leitura nem um pouco “politicamente correta”:
NOELLENEUMANN, Elisabeth. La espiral del silencio: opinión pública, nuestra piel social. Paidós, 2010
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